quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ignorância, Inferno e meus Tiranos


2:30 da matina, escuto um resmungo vindo do quarto do Pitico. Tento ignorar, mas o resmungo vira um miado que aumenta e está prestes a virar um choro. Do meu lado Mozão meio anestesiado. Levanto bem devagarinho e vou fazer o “cala boca” (vulgo mamadeira da madrugada, Alôoo!! Alguém tem uma dica de como se tira este costume?). Mozão ainda murmura, “-tem que procurar a mamadeira no berço”. E lá fui eu, meio caolha, meio sonâmbula.

4:30 e escuto de novo o miado. Desta vez não, violão. Não tem “cala-boca”. Fico quietinha e começo a conversar com Nossa Senhora (sim, eu sou religiosa, apesar de não acreditar muito na instituição em si). Começo a conversar de mãe pra mãe e parece que ela entende e Pitico se acalma um pouco.

5:20 agora são miados e gritinhos, que vão aumentando. Tenho a impressão de ver a expressão de Pitico, e não ver nenhuma lágrima. Meu corpo está pesado, minha alma mais ainda. O que será? Mozão levanta e tenta descobrir o que se sucede com Pitico.

Voltando um pouco no tempo, há 5 semanas levei Pitico no Otorrino porque ele sempre tinha uma pequena inflamação no ouvido. O médico na época receitou umas bolinhas homeopáticas, um spray para o nariz e solicitou que voltássemos em 5 semanas. Incrivelmente neste período Pitico melhorou consideravelmente. Estava dormindo melhor, de boca fechada, com nariz destrancado. Não sei se foi a homeopatia ou as doses diárias de Yakult.

Pois bem, Segundona, dia de otorrino, vamos Pitico, Teddy e eu para a consulta. O médico achou ótimo a vinda do Teddy porque Pitico prestava muita atenção no que ele fazia com o ursinho e deixava que o médico o examinásse sem problemas. Anaminese feita, veredicto: Pitico tem um acúmulo muito grande de cera no ouvido e precisa ser limpo, pois isto está atrapalhando a audição dele, que consequentemente atrasa o processo da fala. O médico chegou a comentar que ele não ouve barulhos muito baixos, tipo folhas das árvores balançando com o vento, canto de passarinhos, etc. Fiquei muito triste só em pensar que Pitico não ouvia o canto do Kiki. Doutor, innntão nos deu gotinhas para pingar em cada ouvido para amolecer a tal cera e innntão voltarmos em 1 semana para aspirar a gosma restante.

Iniciamos com as gotinhas, a contragosto do Pitico. Segundona, tudo bem. Terça de manhã, tudo bem, nenhuma reação. Mas ontem, terça de tarde, depois de algumas horas da admnistração das gotinhas Pitico se tornou insuportável. Choramingava, gritava, cutucava os ouvidos. Parecia que estava com dor. Porém deixava que eu apalpasse as orelhas. Depois de uma luta para ir dormir, finalmente ele se rendeu ao cansaço ou o Ibuprofeno que dei pra ele fez efeito.

Decidimos que hoje de manhã ele não usaria as gotinhas e observaríamos. Acordou ainda manhoso e com a orelhas quentes e vermelhas. Foi pra escola e veremos como vem mais tarde. Fecha o flashback.

6:41 toca meu despertador, Pitico lambe meu rosto com uma baba gelada. Mozão se enfia embaixo das cobertas e me abraça apertadinho. Pitico chora, faz drama. Não quer que fiquemos juntinhos. Mozão leva Pitico para ver o Kikaninchen.

6:43 volta Mozão sozinho e se enfia de novo embaixo das minhas cobertas. Euzinha que já tinha sido embalada pelo barulho da chuva na janela, apenas reajo meio brava e mal-humorada à uma brincadeira do Mozão. Mozão fica nervosinho e sai.

6:50 vem Pitico e acende a luz do abajur. Eu penso comigo mesmo: “- hoje não é meu dia, eu só queria ficar quietinha, quentinha, relaxar um pouco.” Mas sou interrompida pelo Pitico, que a esta altura já me puxava pela mão, puxava meu edredom e murmurava alguma coisa como “anta”, que quero crer que seja sua pequena palavra para “levanta”. Como eu ainda estou em estado letárgico, e não reajo muito bem a isto, Pitico vai embora reclamando.

6:55 vem Mozão com Pitico e diz que ele quer a mãe. A mãe do Pitico está no inferno. Meu mau humor está escrito na minha testa.

7:06 decido levantar, não aguento mais tanto terrorismo.

8:00 discussão sobre levar ou não Pitico no Otorrino. Problema é que, como eu procurei o problema, eu que estive na consulta, eu que fico caçando confusão teria que esperar até às 9h para levar Pitico no Otorrino. Concordo em esperar, Pitico se encanta com a Vila Sésamo,  lembro-me do meu horário no laboratório para tirar sangue, lembro que não posso chegar atrasada. Pitico parece bem. Decido deixá-lo na escolinha. E aviso a professora que se alguma coisa ocorrer é para ela nos ligar imediatamente.

8:35 perco o ônibus

8:45 consigo pegar o ônibus.

9:00 metro

9:20 Laboratório

9:50 finalmente cheguei no escritório, e quem sabe consigo terminar tudo a tempo para sair às 15:30 e pegar Pitico antes das 16:30. Acho que se não sair para almoçar vai dar certo.

Estou aqui escrevendo e pensando em como é complicado ser assim como eu sou. Sou explosiva e nervosa, e com a escassez de tempo para mim, minha ragugisse só tem aumentado. Não é fácil sair de casa com uma criança que já pesa 12kg no colo, carregando bolsa, bota de chuva da cria e o Teddy. Descer escadas, pegar elevador, garantir que Pitico fique com a touca na cabeça, achar a chave do carro, colocar Pitico no chão, pegar guarda-chuva no carro, correr atrás de Pitico, fechar o carro, andar até a escola, trocar Pitico, ler os avisos do dia, correr embaixo de chuva para não perder o ônibus, perder o ônibus, ficar 10 minutos no ponto de ônibus em baixo de chuva e frio.....pensando que tudo teria sido mais fácil se eu não fosse tão inquieta, reclamona e preocupada com as possíveis doenças que Pitico possa ter.

A ignorância não deve ser tão ruim assim, pois a pessoa não sofre nem por antecipação e nem depois do fato. Não há dúvida, não há responsabilidade, não há correria. Somente o doce saber de desconhecer.

Eu simplesmente estou a um passo de ter um colapso. Não sou boa para minha casa, não sou boa para meu marido, não sou boa para meu filho. Não estou dando conta de tudo. É o freezer que eu não arrumei, as roupas que não guardei, a dor nas costas ao pegar Pitico, a dor no estômago em pensar em como eu gostaria que fosse diferente, é a falta de tempo para mim, a falta de compreensão de mim mesma e a insatizfação comigo mesma.

Enfim, post longo, mal-humorado e cheio de dúvidas.

Um comentário:

Ich, Hausfrau disse...

oi flor.. dá pra sentir o seu esgotamento lendo o post! tbem sou explosiva assim e fico mal depois, pq acho que naum sou uma pessoa boa e tals... mas fique tranquila, pois tenho certeza de que vc faz o melhor para agradar sua familia... vc só precisa de um tempinho a mais pra vc! bjo