sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mães não são divertidas....


Innntão que Pitico cortou seu cordão umbilical. Decidiu que já é um homenzinho, e como tal deve andar em companhia de homens de verdade. Parece até poético, se não fosse trágico, para mim, que sou a mãe dele e ele ainda tem apenas 1 ano e meio.

Pitico me rejeitou ontem. Não quis vir para meu colo, e preferiu o colo do pai, o qual tinha passada já um bom tempo depois da escola. Eu fiquei desconsolada. Meu humor mudou, a alegria em ter uma carona para casa e a ilusão de uma noite alegre com meu filho e marido morreram ao descer do carro.

Há dias Pitico vem chorando para ir para escola porque não quer deixar o pai sozinho, ou não quer ficar sem o pai. E eu tenho cada vez mais ganhado o papel de carrasca e megera, pois tenho que levá-lo aos prantos escada abaixo, e ainda por cima, após retirá-lo da companhia do seu herói, ainda o entrego às tias da escolinha e vou embora. Mas no meio da tarde o herói volta, e salva a criancinha abandonada pela mãe, e em seu mundinho tudo fica bem de novo. Até que a mãe megera chega em casa e começa a colocar as coisas no lugar:

- Mozão, kd o bico?
- Não sei, está por aí. (E eu penso, aí onde criatura?)
- Pitico desce daí!
- balfiudfdlsedfdsdf aga? (Pitico protestando)
- Não filho, aqui não, momy tá cozinhando, é perigoso. Brinca ali ó, depois vamos comer comidinha gostosa.
- Blagh (como ele sabe que tem legumes de novo?)
- Vem filhote, olha tem cenourinha, batatinha, carinha, feijãozinho (eu já impaciente, pensando se a máquina de lavar deu conta da roupa, que horas vou tomar banho, se vou conseguir lavar o cabelo e secar para ficar com cara de gente)
- Blsfdkfdus Danke (Pitico se revolta e empurra o prato)

Pitico percebeu que tem uma mãe ordeira, que pesquisa demais, que lê demais sobre educação infantil e que se preocupa demais em ter a casa em ordem. Pitico se deu conta que tem uma mãe que está mais fora de casa e menos dentro dele. Que o tempo em que ela está em casa ela prefere ir para cozinha a sentar no chão e brincar com ele. Ou ela prefere ver TV a jogar bola com ele. Ele ainda não entende que meu corpo precisa de uma pausa. Que minha mente precisa se desligar com coisas tolas. Tenho dado tanto de mim para os outros que tem sobrado muito pouco de mim para mim mesma. Tenho estado tão triste e frustada que não tem sobrado alegria para minha família, e Pitico, no auge de sua sabedoria infantil, não precisou de muita análise para perceber isso. Ele apenas observou, comparou e sentiu.

Papai é mais divertido porque faz aventuras perigososas e sempre tem um som novo com a boca para fazer os esfeitos especiais sonoros. Papai não grita e nem o obriga a comer legumes. Papai não coloca remédio no nariz. Papai come chocolate e me dá pedacinhos escondidos da mamãe. Papai me leva para passear de carro e me deixa ver filmes em seu computador. Papai não cutuca minha orelha tentando ver se está inflamada. Papai não anda atrás de mim com um lencinho para limpar meu nariz. Papai faz brincandeira sobre as mandices da momy e diz “ae Pitico, momy chegou!”.

Meu coração está chorando, minha alma está ferida, mas isto é só o começo do padecer de uma mãe no paraíso. Dizem que se mata uma mãe muitas vezes até ela decidir morrer. Ontem, como mãe, morri um pouquinho. Morri de ciúmes, morri de medo, morri de raiva por tê-lo carregado durante tanto tempo, doando meu corpo e minha forma, e agora recebendo como paga uma preferência pela alegria do seu herói.

Não estou desmerecendo as qualidades do Mozão, apenas estou constatando que não sou uma pessoa divertida....mães não são divertidas, mas são educadoras, disse Mozão tentando me consolar. Que sina essa nossa. Doamos parte do nosso corpo para gerar um filho. Doamos nossa forma para alimentá-lo. Doamos nossa libido para estar mais tempo com ele. Doamos nossa juventude para educá-lo. E em troca ganhamos algumas alegrias pingadas, alguns abraços febris e uns beijos roubados. Não, mães não são para serem divertidas. Mães são anjos de Deus enviados à terra para evitar que as crianças se cortem, sangrem demais, ou chorem demais porque o seu herói teve que ir viajar a trabalho. Mães são anjos e carrascos que colocam ordem para que os filhos possam descobrir as diferenças da vida.

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