quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dia de faniquito

Então, a Copa se foi, o Brasil também, e a vida continua.

Estou aqui num momento de reflexão, ou de faniquito mesmo, como diz meu querido cabeleireiro.

Quando nos mudadmos para Berlim, sempre tivemos uma métrica para verificar o tempo de permanência por aqui. Tipo, enquanto a balança estiver equilibrada ou pendendo para o lado alemão, vamos ficando.

Mas tenho que dizer que ultimamente a minha balancinha interna tem tido vontade de pender para o lado do Brasil. Calma, não estamos pensando em voltar.

Mas, neste meu momento de faniquito, chego a conclusão, que para mim a vinda para a europa foi uma involução. Calma de novo. Vamos deixar de lado coisas como: aprender uma língua nova, ter as vantagens de morar em um país de primeiro mundo, conhecer outra cultura, etc...Coisas importantes, mas que neste texto vão ficar sem importância.

Geo uma vez disse que brasileiros de classe média não ficam morando muito tempo fora do Brasil. Na época discutimos bastante, e eu discordava. Hoje, num momento faniquito, estou tendendo a concordar. Aí vc me pergunta por que, criatura? Para responder, tenho que contar um pouco de estória...

Existem muitas brasileiras casadas com alemães vivendo por toda Alemanha e Europa. Muitas delas tinham uma vida simples no Brasil. Muitas passavam até necessidades, mas tiveram a sorte de se casar e vir morar na Europa. Isto ocorre normalmente com pessoas mais humildes e de classes sociais menos abastadas. Para muitas destas mulheres a vida na Europa é um conto de fadas que se torna realidade. Finalmente vão ter acesso a tudo que sonharam. E passam, então, a viver a vida do marido, e se sentem gratas por estarem morando aqui, pois comparativamente seu poder econômico aqui é maior, e a possibilidade de ter um filho educado e até cursando uma faculdade não é um sonho distante.

Feliz, ou infelizmente, para mim é diferente. Primeiro que sou casada com um brazuca e não venho de uma família abastada, mas também não venho de uma família paupérrima. Estudei sempre em escolas públicas e sempre trabalhei. Quiçá na época de faculdade eu trabalhava e estudava. Mas eu tinha certas mordomias que por aqui são realmente artigo de luxo. Agora começa o faniquito.

Quando eu morava no Brasil eu:
- tinha um carro, não era uma Mercedes, mas me levava onde eu queria ir;
- ia na manicure toda semana;
- ia no cabeleireiro e saia de lá me achando modelo de comercial de shampoo;
- tinha uma diarista que limpava minha casa, passava e guardava minha roupa, e fazia isso com calma, porque eu a pagava por dia de trabalho e não por hora;
- ia na farmácia e comprava amoxilina ou qualquer outro antibiótico e ficava boa logo logo, com o detalhe de ter farmácias abertas no fim de semana e até 24h;
- comia requeijão, pão de queijo e picanha;
- passeava aos domingos no shopping, depois de ter comido em algum lugar;
- fazia compras no supermercado a qualquer dia da semana ou hora do dia;
- era atendida por garçons com muita simpatia;
- se eu tivesse tido meu filho no Brasil, teria sido por cesariana com hora marcada e eu escolheria em que escolinha ele iria estudar
- se eu levasse meu filho doentinho no pediatra, este iria receitar algum remédio para que meu filho ficasse bom logo e não sofresse
- se eu levasse meu filho na escola, esta funcionaria pelo menos a partir das 7h30 e ficaria aberta pelo menos até as 18h30


Morando na Alemanha, eu tive uma involução:
- tenho um Mercedes, que fica estacionada na frente da minha casa e vou trabalhar de ônibus e metro. (Desta parte eu não reclamo, eu acho legal e até bem ecológico, afinal o sistema público de transporte daqui nem se compara com os do Brasil)
- eu mesma tenho feito minhas unhas porque é difícil encontrar uma manicure brasileira. Já tentei me adaptar às alemães, mas serviço não é o forte delas, e quando se deparam com minhas unhas limpas e de cuticulas tiradas, acham lindo e dizem que não tem nada pra fazer ali. Aí passam esmalte só no meio da unha, porque assim não precisa limpar as beiradas e nem em cima, ahh, e cobram uma fortuna por esta falta de serviço (tá bom pra vc mulher?);
- há um mês encontrei um cabeleireiro brasileiro fofo que me entende, mas até então era um sofrimento. Saía dos salões alemães parecendo Poodle em dia de tosa e com uma sensação horrível de ter pagado um absurdo para uma porcaria de serviço;
- tenho uma faxineira que só limpa onde o padre passa, e não posso exigir muito mais porque ela cobra por hora, e me custaria uma fortuna se ela fizesse o serviço como eu quero;
- remédio só com prescrição média, caso contrário ar fresco e água são santos remédios por aqui;
- salsicha, batata e chucrute
- ou faço almoço em casa ou vamos tomar um tal de brunch, que é uma mistura de café com almoço, e depois casa, porque shopping aqui não abre aos domingos;
- perco meu sábado fazendo todas as compras que não consigo fazer durante a semana porque estou trabalhando, e porque tudo fecha as 20h no sábado;
- a máxima “o cliente tem razão” na Alemanha se chama “o garçom é o rei”;
- comecei tendo meu filho por parto natural, sofri, e depois terminei em uma cesariana de emergência porque eles esperaram demais a natureza agir;
- na maioria das vezes o pediatra não gosta de me ver em seu consultório e sempre acha que Lukas está bem e com ar fresco e muito líquido ele vai melhorar rapidinho;
- a escolinha do Lukas abre as 7h30, mas fecha as 16h30, porém eu trabalho até as 18h, o que causa um certo conflito. Detalhe: a escolinha foi quem nos escolheu.

Perceberam a involução? Sentiram o stress? Agora digam se não tenho motivos para ter um faniquito?

Bjs,

Ps aos desavisados: este texto tem pretensões de ser cômico.

Um comentário:

Unknown disse...

Nossa... Bem esclarecedor esse teu texto... Namoro um alemão e temos pretensões de morarmos juntos na Alemanha, umas das primeiras preocupações que tive foi acerca do salão de beleza... aff vou ter que fazer minha propria escovinha,chapinha :(